Privação Cultural e Educação Compensatória - Uma Análise Crítica
Por: Breno Ferreira
O artigo “Privação Cultural e Educação Compensatória: Uma análise crítica”, traz uma releitura sintética da dissertação de mestrado da Pesquisadora em Políticas de formação dos profissionais da educação infantil, Pedagoga e Pós Doutora em Educação; Sônia Kramer que tendo em vista os índices de fracasso escolar no primeiro grau a partir da década de 1970, analisou as origens e fundamentos teóricos dos programas compensatórios, desenvolvendo uma série de críticas sobre as abordagem da privação cultural e educação compensatória a partir desta década. Segundo Sônia Kramer a partir da década de 1970, as políticas educacionais eram voltadas para sanar as questões condizentes ao fracasso escolar no primeiro grau. Sugeria-se que este fracasso, fosse oriundo da deficiência cultural e da inexperiência por parte das crianças de não tirarem proveito da escola. Nesse sentido, abre se um viés para as políticas públicas voltadas ao pré-escolar a fim sanar essas defasagens. Daí a origem da Educação Compensatória, uma prática que tende a compensar as deficiências culturais do educando desde a primeira etapa da educação básica possibilitando uma suposta democratização do ensino. Sônia Krâmer inicia seu artigo, apontando algumas premissas básicas a cerca da privação cultural. Na primeira, ela discute que o “problema da criança”, não é entendido de forma isolada, mas procura-se percebê-la dentro de um contexto sócio-classicista ou seja, a criança está ligada a sua classe social. No que diz respeito a democratização do ensino, reconhece-se que a democratização de fato não permeia o acesso mas sobretudo o trabalho pedagógico nela desenvolvido, de forma com que sua atuação deve beneficiar as crianças a que ele se destina. As origens da Educação Compensatória coincidem com a da própria pré-escola que tem sua gênese em: ”Froebel, e nos primeiros jardins de infância fundados nas favelas alemãs, em pleno advento da Revolução Industrial:; em Montessori e suas “Casas dei Bambini” em favelas italianas; em MecMillan – contemporânea de Montessori – e na ênfase que se dava à necessidade não só de assistência médica e dentária, mas também de estimulação cognitiva para que as deficiências das crianças fossem compensadas.” (KRAMER: 1982, Pág. 55) Os programas compensatórios não possuem uma abordagem homogênea, seus objetivos possuem variantes de acordo com o que se pretende compensar. |
Diante disso, segundo Kramer, algumas tendências são observadas: Os de ordem sanitária e Alimentar, Fatores relacionados a assistência social, Influência das teorias psicanalíticas e das teorias do desenvolvimento infantil, estudos antropológicos e sociológicos, pesquisas sobre o pensamento da criança e interferência da linguagem no rendimento escolar.
Durante a leitura do artigo, podemos perceber algumas críticas concernentes a prática da Privação Cultural e Educação Compensatória. Dentre elas, vale destacar a concepção de uma criança universalmente constituída, dessa forma, não se levava em consideração os aspectos socioculturais de cada um, mas sim, os da classe dominante economicamente valorizada. Outra crítica apresentada pela autora, trata-se de achar que uma cultura se contrapõe a outra encarando as classes sociais marginalizadas enquanto uma cultura inferior e não diferente. Sônia Kramer irá abordar ainda que a privação cultural e a base dos programas de educação compensatória, que pretendem corrigir as deficiências culturais da criança e que na perspectiva destas políticas, existe uma abordagem interacionista que discrimina a cultura de origem e culpa a criança, a família e o meio pelo “déficit” existente. Diante disso, Krâmer propõe algumas diretrizes práticas para uma ação pedagógica que objetive beneficiar as crianças e não marginaliza-las. Dentre elas: Observar as atividades infantis, Confiar nas possibilidades das crianças de se desenvolverem e aprenderem, Propor atividades com sentido: para o professor e para os alunos, Relativizar as teorias do desenvolvimento infantil, Favorecer o processo de alfabetização, Condições para efetivá-la: o respeito a linguagem da criança; o incentivo a sua aplicação, Recuperar a Função Pedagógica da escola. A luz do texto acredito que as políticas educacionais compensatórias, mecanizam os processos educativos, fazendo com que a escola perca sua essência de acolher a diversidade cultural e favoreça a reprodução do preconceito. Contribuindo para a discriminação étnica cultural uma vez que se tem como padrão a cultura de massas influenciada pelo capitalismo burguês. REFERÊNCIAS: KRAMER, Sônia. Privação Cultural e Educação Compensatória: Uma análise crítica. Caderno de Pesquisa. São Paulo, p. 54 – 62, 1982. KRAMER, Sônia. Currículo do Sistema Lattes. Disponível em: <http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=W12109> Acesso em 03/06/2012 às 18:06 hs. |
Sugestão de Leitura
A Política do Pré- Escolar no Brasil: A arte do disfarce
Autora: Sônia Kramer
Editora: Cortez
131 Páginas